Expansão fiscal impede País de surfar onda de corte de juro, diz economista da Veedha

Economia
Expansão fiscal impede País de surfar onda de corte de juro, diz economista da Veedha

O Brasil poderia estar surfando em ondas mais altas se não fosse a política fiscal expansionista, que tem exigido do Banco Central a manutenção do juro elevado enquanto economias avançadas reduzem suas taxas. A avaliação é da economista-chefe da Veedha Investimentos, Camila Abdelmalack. Para ela, os incentivos fiscais têm assegurado o crescimento da economia e a redução do desemprego, mas a um custo muito alto. As faturas, afirma, começarão a chegar a partir de 2025.

Camila prevê crescimento do PIB em 3% este ano e expansão de 1,70% no ano que vem, perto do consenso da Focus (3,05% para 2024 e 1,93% ára 2025). Isso porque, de acordo com ela, mesmo com o Fed e o BCE cortando juro, o BC terá de aumentar a Selic. O aumento de juro, nas palavras da economista da Veedha, se faz necessário para combater a inflação que cresce decorrente da injeção de dinheiro público na economia. “Estamos crescendo e reduzindo o desemprego, mas a um custo muito elevado”, diz, ao Broadcast.

A Veedha espera que o BC promova duas altas de 0,50 ponto porcentual na Selic, em novembro e dezembro, e mais uma elevação de igual magnitude em janeiro, para 12,25% ao ano.

O crescimento do PIB e a redução do desemprego que a expansão fiscal está promovendo, mesmo com a alta da Selic, estão levando ao aumento do crédito. Só que o efeito defasado dos aumentos da Selic este ano somado à alta de 0,50 ponto prevista para janeiro vão levar ao arrefecimento da economia em 2025, o que incorrerá no aumento da inadimplência, outra preocupação do BC.

Hoje, segundo Camila, a expansão fiscal tira um pouco de potência da política monetária. A Selic alta, de acordo com ela, está servindo para impedir a inflação de escalar para muito além do que está, mas não para trazê-la para o centro da meta. O crédito continua crescendo e deve continuar se expandindo até o começo do ano que vem. Mas, no momento que as altas de juro começarem a bater na economia, a inadimplência voltará a subir.

Sobre o cenário externo, na avaliação da economista da Veedha, não se sabe exatamente quanto o Fed e o BCE e outros bancos centrais como o da Inglaterra, por exemplo, vão cortar suas taxas de juro. Mas se sabe que a tendência é de taxas menores que as atuais. E o Brasil que poderia estar aproveitando do aumento do diferencial de juro e, no máximo manter a Selic onde está, terá de aumentá-la para impedir que a inflação vá para além do teto da meta. Na Veedha, a expectativa é de que o IPCA feche este ano em 4,5% e o próximo, em 4,3%.

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A inflação, de acordo com Camila, é algo que incomoda o BC – os diretores da autarquia têm tornado pública esta preocupação – e por isso o entendimento dela de que a nova diretoria do BC a partir de 1º de janeiro de 2025 não fará “uma política irresponsável” de sair cortando juros só por cortar.

“Eles estão determinados em controlar a inflação. Agora, se vier uma coordenação entre as políticas fiscal e monetária, se houver a convergência para uma responsabilidade maior e uma sinalização crível do governo na direção de buscar o equilíbrio fiscal, sem dúvidas que há chances de termos um cenário surpreendente”, diz a economista.

Segundo Camila, o Brasil precisa encontrar uma forma de ter uma taxa de juro mais próxima da neutra.

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“Estamos nos afastando cada vez mais da taxa neutra. O Fed está cortando, o BCE cortou e o BoE vai cortar mais. Quanto que a gente está ganhando com isso? O Brasil não é uma bolha e, portanto, o que acontece lá fora impacta a gente. Nós temos uma restrição muito menor com o Fed num movimento de corte de juros. Então, a gente tem uma onda que poderia ser favorável para nós, na qual poderíamos estar surfando, mas estamos sendo engolidos por uma outra onda, a da desconfiança com a política fiscal”, atesta a economista.

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