Além da alta nos preços, o mercado de eletrônicos de consumo deve enfrentar especificações técnicas estagnadas ou até mais fracas que as atuais a partir do próximo ano. Um novo relatório da consultoria TrendForce projeta que o custo dos chips de memória (DRAM e NAND) continuará subindo drasticamente no primeiro semestre de 2026.
O aumento nos custos dos materiais já está forçando marcas globais a reverem suas estratégias de lançamento para não perderem margem de lucro. Segundo a análise da consultoria, a indústria deve responder a essa pressão em duas linhas: aumento do preço de varejo e a redução das especificações de hardware.
A previsão é de que o crescimento nas remessas de dispositivos seja revisado para baixo, já que os recursos de produção estão sendo desviados prioritariamente para atender à demanda insaciável por servidores de inteligência artificial.
Na internet, o fenômeno de encarecimento e escassez de componentes já vem sendo batizado de “RAMagedom”, refletindo o temor de que a montagem de novos computadores ou a compra de smartphones se torne proibitiva, lembrando momentos da crise pós-pandemia.
Smartphones devem ficar mais caros e piores
O impacto mais visível para o consumidor deve ocorrer com os smartphones básicos e intermediários. O relatório indica que a tendência de aumento de memória RAM, que vinha acelerada nos últimos anos, deve frear bruscamente.
Para o segmento intermediário, a TrendForce aponta que as versões com 12 GB de RAM devem desaparecer gradualmente, tornando-se raras ou exclusivas de modelos premium. Já nos aparelhos de entrada, a pressão de custos pode forçar as fabricantes a voltarem ao padrão de 4 GB de RAM, revertendo o avanço que vinha ocorrendo nos últimos anos.
Smartphones como Galaxy A16 5G e Poco C75, que podem ser encontrados por menos de R$ 1.700, já apareciam em configurações com mais de 6 GB de RAM.
Mesmo no segmento topo de linha, a transição para o padrão de 16 GB de RAM deve desacelerar. A consultoria observa que a memória está ocupando uma fatia cada vez maior do custo total de produção, afetando até mesmo gigantes com margens de lucro robustas, como a Apple.
Chinesas devem sentir maior impacto
A consultoria Counterpoint Research também revisou suas projeções para baixo e agora estima que as remessas globais de smartphones encolherão 2,1% em 2026. Com a memória mais cara, o preço final deve aumentar e a demanda cairá.
O relatório destaca que o segmento de entrada será o mais severamente atingido. Marcas chinesas que operam com margens de lucro apertadas, como Honor, Oppo e Vivo Mobile (Jovi no Brasil), devem sentir a maior diferença em seus volumes de venda em comparação com as estimativas anteriores.
No Brasil, a Samsung prevê uma alta entre 10% e 20% nos preços dos smartphones de linhas básicas e intermediárias. A fala foi feita pelo vice-presidente sênior, Gustavo Assunção, ao Tecnoblog com exclusividade.
A consultoria alerta que a dificuldade em manter preços competitivos nesses modelos básicos pode frear a renovação de celulares em mercados emergentes.
E quanto aos notebooks e PCs?
O cenário também é alarmante para quem planeja montar ou comprar PCs e notebooks. De acordo com a análise da TrendForce, não é viável reduzir drasticamente a memória RAM dos laptops devido às exigências mínimas dos sistemas operacionais modernos e softwares de produtividade.
O Windows 11 exige requisitos de hardware que tornam máquinas com menos de 8 GB praticamente obsoletas para uso fluido. Por isso, as configurações de 8 GB a 16 GB devem se manter como o padrão. Sem poder cortar custos reduzindo o hardware, as fabricantes terão que aumentar o preço final dos laptops nas prateleiras.
Segundo o portal Tom’s Hardware, o gerente de negócios da Kingston, afirmou que os consumidores não devem esperar até o ano que vem. Os preços dos componentes NAND (usados em SSDs) aumentaram 246% desde o primeiro trimestre de 2025, segundo o executivo.
Como os chips de memória representam cerca de 90% do custo de fabricação de um SSD, o repasse ao varejo é inevitável e deve continuar ao longo de todo o ano de 2026. Ao menos Dell, Lenovo, HP, LG e Samsung já anunciaram revisão nos preços entre esse mês e o começo de janeiro.
Escassez de chips: celulares e notebooks devem ficar mais fracos em 2026

