Juros americanos devem permanecer mais altos por mais tempo, diz Campos Neto

Economia
Juros americanos devem permanecer mais altos por mais tempo, diz Campos Neto

Às vésperas da decisão de política monetária dos Estados Unidos, o presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, disse que as taxas de juros americanas devem permanecer em um patamar elevado.

“Hoje, o que aparece que vai ser a realidade é que a taxa de juros americana vai ficar mais alta por mais tempo então a gente vai ter esse fenômeno que vamos ter de conviver por mais tempo”, disse Campos Neto no CNN Entrevistas desta terça-feira (30).

O Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc) do Federal Reserve (Fed), o banco central dos EUA, divulga nesta quarta-feira (1º) a decisão sobre os juros.

Para além do resultado, as atenções estarão voltadas aos sinais sobre os próximos passos da autoridade monetária, uma vez que a previsão é de manutenção do juro na faixa entre 5,25% e 5,50% ao ano.

Apesar de todo o mercado doméstico observar com cautela a decisão do Fed, Campos Neto reforçou não existir uma relação mecânica entre as políticas monetárias adotadas nos Estados Unidos e no Brasil.

“Quando a gente fala que não tem relação mecânica com o fiscal, que não tem relação mecânica com os Estados Unidos é que não existe uma relação da taxa de juros americana com a taxa de juros brasileira. O que existe é o seguinte, a taxa de juros americana tem influência sobre variáveis e essa variáveis impactam a nossa função e reação, a nossa forma de trabalhar”, explicou o presidente do BC.

Por outro lado, Campos Neto reconheceu que incertezas com relação ao que chamou de movimento de “reprecificação dos juros” no mundo, uma vez que é um efeito cumulativo e acontece em um contexto de dívida pública crescente em vários países.

“Eventualmente, ele [o juro] vai começando a custar. Ele começa a custar para os países pobres, começa a custar para o crédito privado. As empresas que têm um maior risco não conseguem se financiar. A gente já está vendo um pouco disso em alguns desenvolvidos, não no brasil. Então, a preocupação é o que acontece com esse juros mais altos por mais tempo em termos de efeito cumulativo”, afirmou.

No Brasil, após duas revisões para cima, o mercado manteve as expectativas com relação a taxa de juros em 2024. De acordo com o Boletim Focus, divulgado nesta terça-feira (30), os especialistas seguem com a expectativa de corte de 0,5 ponto percentual na taxa básica de juros em maio. E continuam vendo a Selic a 9,50% ao final de 2024 e 9,00% em 2025.

Sobre a influência dos juros americanos no câmbio, Campos Neto afirmou que a percepção de taxas mais altas por um período maior fortalece o dólar. Mas que os impactos gerados pela valorização são sentidos em países mais fracos.

“O problema da dívida americana não é sentido nos EUA. Como ele é um instrumento que suga liquidez de outros lugares, quando os EUA devem muito, a uma taxa [de juros] mais alta, o problema é sentido na ponta mais fraca, que é quem tem um risco maior e precisa de mais recursos. Não parece que é um problema que vai afetar os EUA muito fortemente. Ele é um problema global, porque se trata de extração de liquidez”.

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